Mesmo sem uma boa trama ou um bom vilão, 007 Sem Tempo Para Morrer se agarra em Daniel Craig para sua emocionante despedida.

Em 007 – Sem Tempo Para Morrer, depois de sair do serviço ativo da MI6, James Bond (Daniel Craig) vive tranquilamente na Jamaica, mas como tudo que é bom dura pouco, a vida do espião 007 é agitada mais uma vez. Felix Leiter (Jeffrey Wright) é um velho amigo da CIA que procura o inglês para um pequeno favor de ajudá-lo em uma missão secreta. O que era para ser apenas uma missão de resgate de um cientista, acaba sendo mais traiçoeira do que o esperado. Levando James Bond de encontro ao misterioso vilão Safin (Rami Malek), que se torna a mais nova ameaça a segurança mundial.
O longa tem três histórias principais sendo desenvolvidas, a primeira é o relacionamento de Bond com Madeleine. A filha do vilão Mr. White já está na franquia desde “Quantum Of Solace” e termina com o agente no último filme “Spectre”. Esse plot é o melhor do filme para mim, a relação entre os dois funciona muito e segura a parte dramática do filme, e que vai ser muito importante no final.
Além disso, esse primeiro ato do filme é o que tem mais “cara de 007”. Explosões, perseguições e muitos tiroteios dão uma intensidade muito bem a vinda a narrativa do filme, além do famoso carro do 007 cheio de acessórios e armas que são marca registrada da franquia, e fazem suas cenas inigualáveis.

O segundo ato chega com a volta de Felix Leiter. Felix é um agente da CIA conhecido desde o primeiro livro de Ian Fleming, Cassino Royale, e na atual fase do cinema apareceu no filme de mesmo nome de 2006 vivido por Jeffrey Wright. Aqui Felix retorna para pedir ajuda ao já aposentado Bond, após um cientista ser raptado pela organização SPECTRE. O grande problema é que foi sequestrado junto a uma arma mortal.
Essa segunda parte nos apresenta o grande plot do filme, para que James Bond impeça mais uma vez a destruição do mundo. Isso é bem clichê e, ao mesmo tempo bem característico das histórias de 007, inclusive é o que o torna o maior espião do mundo. Em Sem Tempo Para Morrer a história funciona bem mais uma vez, mesmo que não deva se tornar uma das mais memoráveis da franquia. A tal arma que cai na mão dos vilões é pouco usada, e quando é utilizada pouco sentimos a grande ameaça que ela pode se tornar, e se a gente não sente, a gente não lembra.
Mesmo sendo apenas funcional eu gosto de um viés abordado nessa história, que é o envolvimento do MI-6, pelo menos de certa forma. Mas o que chama a atenção é como o filme trata esse envolvimento, quase sem julgar como uma ação que torne a organização do mal, mas sim uma coisa que é necessária dentro da necessidade de proteger a vida das pessoas. Uma reflexão interessante de se fazer no melhor estilo “os fins justificam os meios”.

O grande problema desse filme vai ganhando forma mais perto do terceiro ato, quando o vilão Lyutsifer Safin (Rami Malek) aparece. O personagem é mal construído e sua motivação parece muito pequena perto do tamanho do risco que ele apresenta para a segurança mundial. O sentido de urgência vem mais das boas cenas de ação que o diretor Cary Joji Fukunaga faz, do que a grande arma que está nas mãos do vilão.
O que não ajuda também é atuação de Rami Malek. Parece que estamos vendo o mesmo Eliot Anderson lá de “Mr. Robot”, que parece totalmente sem emoção. O seu Lyutsifer Safin parece ter sempre a mesma reação em todas situações que passa, parecendo dar seu texto de uma forma automática. A prova disso é que o retorno de Blofeld, vivido por Christopher Waltz, consegue em poucos minutos parecer mais ameaçador que Safin durante todo filme.

Mas se o vilão não funciona, temos o mocinho para nos salvar. Daniel Craig vem para sua despedida como James Bond já completamente à vontade no papel. Ele que parece entender cada vez mais o personagem, e já deve entrar para lista de preferidos de muita gente, principalmente de uma geração mais nova que aprendeu a amar a franquia a partir de seus filmes. Em Sem Tempo Para Morrer ele entrega o personagem no auge, e com um final muito emocionante para o personagem, vai conseguir deixar saudade nos fãs.
Ralph Fiennes traz um complexo M, que mesmo sem a ajuda do roteiro consegue levantar algumas questões interessantes sobre a moral do MI-6. Naomie Harris e Ben Whishaw fazer Moneypenny e Q protocolares, com direito a algumas piadinhas que até são bem colocadas, mas pouco têm a dizer no longa.

Mas são duas personagens novas que eu gostaria de destacar. A primeira é a agente da Cia Paloma, uma espécie de Bond Girl vivida pela Ana De Armas. Carismática, engraçada na medida certa, sarcástica e excelente nas cenas de ação, a atriz é uma parceira perfeita para James Bond. Os dois entregam a melhor sequência de ação no filme.
Além dela temos Lashana Lynch como Nomi, nada mais nada menos que a nova 007. Um movimento importantíssimo dentro da franquia ao colocar uma mulher negra a assumir o manto de 007. E o longa acerta demais na naturalidade como trabalha essa substituição, mostrando que mesmo que inicialmente exista um desconforto, o título não é mais do que um cargo dentro da organização, afinal é só um número.

Lashana faz uma personagem poderosa e que enfrenta Bond de igual para igual, ao mesmo tempo que não se basta em apenas ser só mais uma, e sempre que tem a chance aproveita para mostrar que pode ser uma agente bem diferente do que James foi, mais séria e mais comprometida pode trazer uma faceta inovadora para o personagem. Infelizmente o roteiro não soube dar a importância que poderia para ela, restando a ela algumas cenas de ação de pouca relevância e algumas cenas mais engraçadinhas. Que venha o Futuro.
007 Sem Tempo Para Morrer não chega perto de “Skyfall”, melhor filme da era Craig, mas também está bem longe de ser o pior que a franquia entregou nesses últimos filmes. Agora só nos resta especular sobre quem será o próximo 007 a ter que salvar o mundo.
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