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Duna | Crítica


Mesmo com um ar introdutório e um ritmo lento, Duna entrega um espetáculo visual digno da grandiosidade da obra de Frank Herbert.

Inspirado no livro de Frank Herbert, Duna se passa em um futuro longínquo, onde um império galáctico foi formado. Até que o Imperador envia a incumbência para o Duque Leto Atreides administrar o planeta desértico Arrakis, também conhecido como Duna. Arrakis é o lugar de única fonte da substância rara chamada de “melange”, usada para estender a vida humana, aumentar a percepção e chegar a velocidade da luz, permitindo as viagens intergalácticas. Mas mesmo que Leto saiba que a oportunidade é uma armadilha intrincada por seus inimigos, os Harkonnen, ele leva sua concubina Bene Gesserit, Lady Jessica, filho e herdeiro Paul, e os conselheiros mais confiáveis para Arrakis. Leto sabe que no deserto pode conseguir uma grande força de batalha e entende que o risco vale a pena. Só que uma amarga traição leva Paul e Jessica aos Fremen, nativos de Arrakis que vivem no deserto profundo.

A primeira coisa que temos que falar aqui é que Duna pede, e merece uma sala de cinema. De preferência com a maior tela que você encontrar. Isso porque o filme dirigido por Denis Villeneuve é grandioso em todos os aspectos. Seja pela escala onde tudo é grande, o deserto é interminável, o seu monstro é gigante e imponente, e sem falar do seu elenco recheado de estrelas. Além disso a direção de arte e a fotografia são de brilhar os olhos, e assistir em IMAX valeu muito a pena. Além de toda a riqueza visual que o filme apresenta, o som também é um ingrediente que impressiona. É a riqueza saltando da tela do cinema.

Duna não adapta toda a história do livro, inclusive o título vem como ‘Parte Um’. E senti muito esse ar introdutório no longa, inclusive deixando ele com um ritmo lento. O que de maneira nenhuma é ruim, o filme pede essa cadência. São muitos nomes, muitas famílias, relações interplanetárias, interesses econômicos e pessoais que vão ser importantes para que a história faça sentido. E Villeneuve é certeiro em fazer isso com calma, principalmente para alcançar o público que não leu o livro de Frank Herbert.

Porém o filme consegue ter início, meio e fim, não deixa aquela sensação de obra incompleta, por mais que pareça que o melhor da história ainda está por vir. Mesmo assim o filme consegue nos envolver dentro da sua ambientação, e de seus personagens bem construídos. Quando ele termina fica aquela sensação de quero mais, o que não deve ser confundido como falta de alguma coisa. Eu já quero essa sequência para ontem. Villeneuve, estou torcendo por ti.

Inclusive aqui podemos fazer uma primeira comparação com o filme de 1984 de David Lynch. Lá o diretor até faz explicações literais sobre a dinâmica dos povos, por exemplo, mas o roteiro falha demais em incorporar isso na história. Já o filme de 2021 faz isso com tanta naturalidade que no meio do novo longa você já tem a noção de quem é quem, e de tudo que envolve cada interação entre os personagens. Isso ajuda muito a dar a importância que o arco do herói imposto para o personagem do Paul Atreides faça sentido, e por consequência o filme todo.

Outra coisa que afasta muito a obra de Villeneuve da de Lynch é que o novo Duna é uma obra muito mais palatável a todos os públicos. O filme se aproxima muito mais de uma fantasia do que de um Sci-fi hardcore como o de 1984. Inclusive o diretor falou em entrevista ao IndieWire que estava com os adolescentes de 13 a 14 anos em mente ao fazer Duna, e que tentou fazer desse o seu melhor filme pop. E realmente conseguiu, mesmo com esse ritmo mais lento, Duna consegue ser divertido e pode agradar até aquelas não tão fãs de Sci-fi assim. Ele é bem mais pop que “A Chegada” ou “Blade Runner: 2049”, por exemplo.

Duna ainda consegue apresentar alguns contornos de suspense, já que ao ser destinado para a regência do planeta Arrakis, o Duque sabe que está levando sua família e seu povo para uma armadilha. Isso faz com que nenhum personagem esteja realmente seguro, e como é fácil se apegar aos personagens, o clima funciona muito. Claro que ter nomes como Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Dave Bautista, Stellan Skarsgård, Josh Brolin, Zendaya, Jason Momoa e Javier Bardem ajuda muito a gente se apegar e torcer por eles.

Esse elenco estrelado é uma atração à parte para Duna, e todos estão bem em seus papéis. Isso só ajuda a abrilhantar ainda mais o filme, e espero que seja motivo suficiente para levar o público ao cinema (claro, com todo cuidado e segurança que o momento pede).

Timothée Chalamet faz o grande herói do filme, Paul Atreides, e confesso que eu tinha um pé atrás com essa escalação. Talvez por parecer muito com o Paul do longa de 1984, vivido Kyle MacLachlan, e que é péssimo. Porém esse ar de príncipe meio deslocado, mas que ao mesmo tempo tem muita noção de tudo que acontece ao seu redor acabou combinando bem com Chalamet. Ele traz essa inocência necessário para o arco do herói de Paul Atreides, que precisa lidar com as responsabilidades de herdeiro que lhe são apresentadas, e que vai ter que crescer muito para conseguir cumprir seu destino.

Confesso que eu esperava ver mais de Zendaya no longa. Talvez pelo peso dela na divulgação do filme, mas o pouco que ela aparece faz seu carisma saltar na tela. Ela vai me ganhar sempre que aparecer, mesmo não sendo muito. E a falta que Zendaya fez na maior parte do filme, é suprida pela forte presença de Rebecca Ferguson, que faz a Lady Jessica, mãe do protagonista.

Rebecca entrega uma personagem cativante, mas misteriosa. Suas intenções não ficam bem claras no longa, e ela apresenta uma luta interna entre sua vontade para o destino do filho, e o que as outras pessoas esperam dele. E Rebecca desempenha esse papel com maestria.

Para não dizer que eu gostei de tudo em Duna, teve um momento que me incomodou bastante. Quando os Atreides são designados para o planeta Arrakis, Paul pede para ir junto com seu amigo Duncan (Jason Momoa), que nega e diz que ele irá depois junto com a família. Aqui a gente tem uma passagem de tempo que é importante, pois Duncan teoricamente vai aprender sobre os nativos, mas parece que o Duque Leto e a família chegam no outro dia em Arrakis. Isso faz que toda informação que Duncan traz depois parece meio perdida dentro do tempo que se passou. E isso ficou martelando na minha cabeça em vários momentos do filme, difícil de ignorar.

Duna é o grande épico de Denis Villeneuve e entrega uma grandiosa e impressionante história, brilhando aos olhos por sua cinematografia e atuações. E independente de gostar ou não, é inevitável assumir que é o maior filme de 2021, pelo menos até agora.


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